6.5.11

ENTREVISTA

CHEF NUNO MARTINS
“…a gastronomia reflecte a história e cultura de um povo, portanto nós temos de dar continuidade às nossas origens, não eliminá-las.”
É a personificação do profissionalismo. Dedicado e competente, gosta de novos desafios.
Ainda jovem, mas com grande currículo, já passou por vários restaurantes e hotéis de luxo, tais como, Hotel Tivoli Tejo e Tivoli Coimbra e, actualmente, gere a cozinha do Hotel Monte Prado, em Melgaço.
Alia a esta profissão, a nobre tarefa de ensinar e transmitir os seus conhecimentos, tendo sido formador na ADM, em Melgaço, na EPRAMI, em Monção, e presentemente ministra formação na EPRALIMA em Arcos de Valdevez, ao curso EFA de Cozinha.
Entrevistá-lo foi um desafio!
É comum dizer-se que os profissionais de hotelaria só podem singrar, se fizerem muitos sacrifícios. Quer comentar?
N.M.: Não se trata de um sacrifício, mas sim uma opção. Isto acontece em todas as profissões, aquilo que para muitos é um sacrifício, para nós profissionais de hotelaria é um modo de vida.
Das várias casas reputadas por onde passou (Hotel Tivoli, Estalagem “O Moinho”, Hotel Monte Prado), qual foi a experiência que mais o marcou profissionalmente?
N.M.: Cada experiência foi um desafio. Pelo tempo e pelo trabalho desenvolvido, o Hotel Monte Prado é a unidade mais marcante…pela região rica em gastronomia e pela proximidade da cultura marítima da nossa vizinha Galiza.
Até chegar à função que desempenha, muito provavelmente deparou-se com diversos obstáculos. Poderá citar-nos algum?
N.M.: Obstáculos não diria, mas sim desafios.
Considero, provavelmente, que a falta de tempo para investir na reciclagem e adquirir mais conhecimentos, é um obstáculo que ainda não consegui ultrapassar.
Num futuro próximo ou mais longínquo, admite trabalhar além fronteiras com condições mais atractivas?
N.M.: Sim, mas sempre com o objectivo de adquirir mais conhecimentos.
E… admite, um dia, poder criar um projecto seu, na área da restauração/hotelaria?
N.M.: Não, porque tendo em conta a minha exigência teria de abdicar de tudo, para dar tudo ao meu projecto.
Cozinha moderna ou tradicional: qual prefere? Porquê?
N.M.: Prefiro cozinha tradicional moderna porque a gastronomia reflecte a história e cultura de um povo, portanto nós temos de dar continuidade às nossas origens, não eliminá-las.
Enquanto Chef de Cozinha que ensina e colabora na formação de futuros profissionais da área da Restauração e Hotelaria, que balanço faz da sua experiência enquanto formador?
N.M.: O balanço é positivo até porque o tipo de formação que tenho ministrado tem sido, maioritariamente, uma troca de conhecimentos.      
Gastronomia Nacional… que qualidades lhe atribuiria?
N.M..: Não considero que tenha qualidades nem defeitos, trata-se sim do retrato de um povo. Defeitos e virtudes todas têm, mas todas elas têm o papel de reflectir os costumes e hábitos de um povo.
Partilha da opinião de que o slow food pode contribuir para uma maior dinâmica do turismo gastronómico?
N.M.: Essa dinâmica aconteceria se houvesse maior procura. Actualmente, ainda, há muito pouco conhecimento do produto slow food e faz-se pouca divulgação, tanto pelo consumidor como pelos estabelecimentos de comidas e bebidas.
Considero que este crescimento não acontece porque há, ainda, um forte barreira entre o produtor e o consumidor final.
Entende que os produtos slow food poderão potenciar a cultura gastronómica do concelho de Arcos de Valdevez?
N.M.: Penso que o papel destes produtos, ainda, é muito reduzido. É necessário investir mais na divulgação dos mesmos. Só assim se poderá potenciar mais e melhores resultados.
Quais são os pratos mais emblemáticos do Alto Minho, na sua opinião?
N.M.: A lampreia, os rojões, o cabrito à moda de Monção e, ainda, as papas de sarrabulho.
Mas, sempre, tendo em conta que a exigência de grande qualidade, vai estar presente, tanto no baixo preço como na gama alta.
Para terminar…
O mercado está cada vez mais competitivo. No seu ponto de vista, quais os desafios para garantir a sobrevivência e estar na vanguarda?
N.M.: A dedicação dos profissionais da área, a modernização dos conceitos… e acreditarmos que Portugal tem tudo para viver do turismo, pois a maioria dos portugueses não acredita.

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